Santo Tirso
A relação materializada com a fotografia, que é a poesia da existência
A partir da experiência com os alunos da Universidade Sénior de Vila das Aves, Teresa Ribeiro e Ari Mouroa perceberam que a fotografia, para aquele público com “experiências de vida tão diferentes”, continua a ser um pedaço palpável de história, um testemunho enraizado na sua própria cronologia.
No âmbito do projeto final de licenciatura em Fotografia, o Coletivo Terrário, composto por Ari Mouroa e Teresa Ribeiro, propôs-se trabalhar a forma como a fotografia se relaciona com a memória, refletindo como a passagem do tempo molda o poder do artefacto fotográfico, do papel impresso e o valor das histórias que este tem para contar. O resultado, obtido com o trabalho colaborativo de 16 alunos da Universidade Sénior de Vila das Aves, pode ser visto no Centro Cultural daquela freguesia, até 29 de fevereiro.
Nas páginas amareladas do tempo, entre álbuns de capa gasta e fotografias que contam histórias ainda vivas nas memórias enrugadas, permanece, ainda, uma geração com uma ligação única com a arte de congelar momentos. Num mundo digital efémero, esses guardiões de lembranças preservam, com ternura, o passado em cada clique de uma máquina que, outrora, era mais que um objeto. Para alguns, tratava-se de uma ferramenta inatingível, pelo valor comercial ou pelo estatuto de bem artístico, apenas digno dos entendidos. Museu que guarda emoções, a fotografia continua a ser, para a população sénior, porta aberta para o tempo que já foi, mas que permanece vibrante na sua existência física.
Foi esta relação das pessoas com o arquivo e álbuns familiares que Teresa Ribeiro e Ari Mouroa quiseram explorar no projeto final de licenciatura em Fotografia, que estão a concluir na ESMAD, Escola Superior de Media Artes e Design.
A partir desta experiência com os alunos da Universidade Sénior de Vila das Aves perceberam que a fotografia, para aquele público com “experiências de vida tão diferentes”, continua a ser um pedaço palpável de história, um testemunho enraizado na sua própria cronologia.
“Atestamos a nossa perceção de que esta faixa etária tem uma relação com a fotografia materializada, exposta, emoldurada em casa, muitas vezes, como se um relicário se tratasse, misturado com elementos religiosos, por exemplo, que se esgota nesta geração”, adiantou Teresa Ribeiro.
Os olhares nostálgicos que revelaram narrativas de amores antigos, conquistas alcançadas e desafios superados estão eternizados num documentário, que serviu de preâmbulo à abertura da exposição “Impressões”, que resulta do trabalho colaborativo, entre Teresa e Ari e os 16 alunos da Universidade Sénior, com idades compreendidas entre os 65 e os 88 anos.
Patente no Centro Cultural Municipal de Vila das Aves até 29 de fevereiro, com entrada gratuita, a mostra é composta pelos retratos dos alunos seniores e pelos trabalhos que realizaram ao longo das sessões que tiveram com os fotógrafos ao longo de meio ano.
“Experimentamos algumas técnicas de fotografia, experimentamos as cianotipias, tivemos parcerias incríveis com pessoas e artistas muito generosos que colaboraram connosco. Os alunos meteram as mãos na massa e criaram fotografia, com câmaras analógicas”, descreveu Teresa Ribeiro, que revelou surpresa pelo resultado obtido.
“E as legendas que eles colocaram nas fotos adensaram ainda mais o significado das imagens”, complementou Ari Mouroa.
Clemente Sampaio já era um entusiasta da fotografia, mas não esconde que a relação com esta mudou, após esta experiência. “Quando nos apresentaram este trabalho (cianotipia) foi um grande entusiasmo, por perceber que tínhamos o resultado imediato”, revela o aluno da Universidade Sénior, que acabou por “comprar um aparelho mais sofisticado” para fotografar.
Presente na cerimónia de abertura da exposição, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Santo Tirso, Ana Maria Ferreira, sublinhou que o que esta exposição “tem de especial” é “ser mais do que isso”. “É o trabalho de colaboração com os alunos da Universidade Sénior e a partilha de informação e emoções que faz deste projeto único e merecedor de apreciação”, salientou.
“Impressões” revela que, na sinfonia das recordações visuais, a geração mais velha assume-se curadora de um arquivo documental não apenas de imagens, mas de experiências encadernadas, proporcionando uma visão única da história pessoal e coletiva, onde a fotografia transcende o papel para se tornar a própria poesia da existência.
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