Santo Tirso
“Só vai a Fátima quem vai a pé”
Naquele dia de 2019, quando viu passar-lhe pela frente o filho prematuro de 29 semanas a lutar pela vida, Rui Oliveira prometeu a Nossa Senhora de Fátima que cumpriria dez peregrinações até ao “altar do Mundo”.
Grupo de Santo Tirso cumpriu mais de 230 quilómetros a pé até ao Santuário de Fátima. O JA acompanhou parte da jornada dos peregrinos entre Oliveira de Azeméis e Águeda, no terceiro de seis dias de caminho.
Naquele dia de 2019, quando viu passar-lhe pela frente o filho prematuro de 29 semanas a lutar pela vida, Rui Oliveira prometeu a Nossa Senhora de Fátima que cumpriria dez peregrinações até ao “altar do Mundo”. As poucas perspetivas de sobrevivência acabaram por superar as dificuldades provocadas por “quatro paragens cardiorrespiratórias” e, hoje, com o filho bem de saúde, conta já duas viagens a pé até Fátima. A mais recente feita a semana passada, em conjunto com um grupo organizado de Santo Tirso, onde estava também Maria Silva, esta bem mais experiente nas agruras que esta caminhada encerra.
Vinte e sete foi o número de vezes que esta mulher, residente em S. Tomé de Negrelos, se fez à estrada para cumprir a peregrinação desde Santo Tirso a Fátima. Este ano, percorreu o caminho com motivos diferentes do que a fez começar, há muitos anos, quando o marido sofreu um acidente grave, mas há algo que nunca muda: a fé de que as preces serão ouvidas por Nossa Senhora.
“Fiz a caminhada durante 24 anos e quando o meu marido faleceu fiz mais uma para completar 25 e achei que já não fazia sentido continuar, porque a pessoa por quem fiz a promessa já tinha partido. O ano passado, vim com este grupo, porque Nossa Senhora me ajudou a ser avó e este ano vinha como voluntária, mas apareceu um problema no meu filho mais novo e prometi que vinha este ano. E aqui estou eu, pelo meu filho”, contou a peregrina, enquanto descansava os pés, apoiados numa árvore junto às tendas montadas para o almoço do grupo, na jornadas entre Oliveira de Azeméis e Águeda.
Emocionada, Maria testemunha que, durante o caminho, “há momentos de tristeza, momentos de muita alegria e momentos de silêncio”, num recolhimento necessário para “agradecer à Senhora”.
No caminho em que motivações e convicções se cruzam com quem caminha no sentido contrário aé Santiago de Compostela, a pé, milhares de pessoas rumam a Fátima para as celebrações do 13 de maio. Maria e Rui fizeram parte de um grupo de cerca de cem peregrinos que partiu do concelho de Santo Tirso, a 6 de maio, com destino ao “altar do mundo”. Chegaram na noite de 11 de maio.
O tirsense Hélder Marques é o responsável pela organização da peregrinação, contando com a preciosa ajuda da esposa, Susana Neto, e de mais outros 30 voluntários, entre familiares, amigos e elementos de associações, como o Rancho Folclórico de Rebordões, que garantem a confeção das refeições.
Em 2018, depois da primeira peregrinação a Fátima, Hélder sofreu uma paragem cardiorrespiratória, mas saiu ileso do coma. Desde aí, e porque tem um cardio-desfibrilhador implantado, sente o dever de proporcionar a experiência da peregrinação aos que podem fazê-la a pé.
“Queremos dar as devidas condições aos participantes e por isso é que não aceitamos mais de cem participantes. Ficaram em lista de espera 93 pessoas. Começamos a preparar isto com três meses de antecedência, reunindo voluntários, reservando os locais para a pernoita e recolhendo apoios”, explicou.
Sem conseguir conter as lágrimas, Hélder repete a importância da ajuda dada pelos voluntários, alguns enfermeiros, que propositadamente tiram férias nestes dias, e outros bombeiros da corporação de Vila das Aves, que acompanham o grupo desde que foi criado, em 2019.
“Uma palavra amiga faz sempre parte, mesmo quando estamos parados e eles passam, uma brincadeira dita ajuda sempre para quem está a batalhar contra o cansaço. Estamos de prontidão para tudo o que os peregrinos necessitarem, desde tratamento de bolhas ou até transporte ao hospital. É uma semana gratificante e os operacionais que têm vindo são quase sempre os mesmos, porque ficam com o ‘bichinho’”, explicou Hugo Machado, comandante da corporação avense.
Este mesmo empenho dos voluntários é reconhecido pelos peregrinos, que elogiam a forma como todas as etapas e logística estão milimetricamente organizadas. “Contamos com muito apoio”, reconhece Maria Silva.
Desde que viveu a experiência da peregrinação há quatro anos, o padre Manuel Torres aproveita a folga semanal que calha no período da peregrinação para acompanhar o grupo e dar apoio espiritual aos romeiros. “Gosto de estar com eles, de celebrar com eles e de sentir de perto o que é caminhar, porque, no fundo, a nossa vida é um caminho”, referiu.
“Só vai a Fátima quem vai a pé”. A frase do padre Miguel Coelho, que também experimentou as agruras e as alegrias do caminho, em 2019, transformou-se no slogan motivacional do grupo. Talvez porque resuma, de forma tão simples, aquilo que as palavras não conseguem detalhar o que sente a alma.
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